Coral e Jim Lorenzen, um casal unido pelo amor e pela Ufologia
A maioria de nós que nasceu após 1947, não tem faz a menor ideia do que foi o início da Ufologia Moderna depois do avistamento de Kenneth Arnold em 24 de junho daquele ano. Apesar de que ao longo da história da Humanidade, as pessoas sempre tenham reportado objetos e fenômenos estranhos no céu, e inclusive como na grande onda de ufos durante a II Guerra Mundial, incluindo os relatos de pilotos sobre os chamados “Foo Fighters”, estranhas bolas de luzes que seguiam os aviões durante as batalhas ou mesmo o famoso episódio da “Batalha de Los Angeles”, onde toda a artilharia de guerra da cidade foi disparada contra um objeto invasor que pairava acima da cidade. Centenas de pessoas presenciaram o terror daquela noite em um episódio que até hoje não foi devidamente explicado.
No entanto, foi só naquele dia de 24 de junho, quando Kenneth Arnold sobrevoava o Monte Reinier em Washington, avistando uma formação de 9 objetos no que ele descreveu como “pires voadores que quicavam sobre a água”, que as pessoas despertaram quase que instantaneamente para o estranho fenômeno aéreo que aterrorizava os céus. A intensa onda ufológica que caiu sobre o mundo nos anos seguintes foi avassaladora, deixou governos, militares e população preocupados, assustados e a beira de uma histeria coletiva. Casos de extrema importância dentro da literatura ufológica aconteceram naqueles anos, como o famoso Caso Roswell, seguidos de avistamentos em massa como os que ocorreram em Portland (Oregon) em 04 de Julho de 1947, onde 4 objetos em formação foram avistados por dezenas de pessoas incluindo policiais e patrulheiros, que descreveram o objeto como “Em forma de Calotas cromadas de roda de automóvel.” Pouco mais de um mês depois, outro avistamento em massa assustou a população de Twin Falls (Idaho), quando um homem e dois rapazes viram um objeto lenticular, azulado que deixava para trás uma chama vermelha de escape. Essa e outras dezenas de relatos se alastraram por toda a parte e foi nessa onda de perguntas sem respostas e o apelo popular por explicações plausíveis que surgiu o Projeto Sign (que depois viraria a se tornar o projeto Blue Book), criado pela Força Aérea Americana para investigar os chamados Discos Voadores. O projeto tinha a frente, como conselheiro científico, Josef Allen Hynek, diretor do Observatório McMillin da Universidade Estadual de Ohio, que no futuro se tornaria um dos maiores defensores e divulgadores da Ufologia. No entanto, as investigações dos governos e suas péssimas explicações para os óvnis começaram a incomodar bastante alguns poucos escolhidos, muitos deles envolvidos pessoalmente com o Fenômeno UFO.
Testemunhas de outrora ao início da grande onda ufológica de 1947, pessoas que se sentiram profundamente intrigadas e tocadas pelo o que viram e outras que foram arrebatadas por uma grande curiosidade e desejo de conhecimento por esse novo mistério. Essas pessoas começaram a se organizar por conta própria e conduzir investigações sobre os avistamentos e qualquer ocorrência que envolvesse os Discos Voadores. Cidadãos comuns, professores, jornalistas, donas de casa, estudantes, autônomos, cientistas, funcionários públicos, todos os tipos de pessoas das mais diversas classes sociais, ideologia, religião e idade. Duas dessas pessoas foram pioneiras na pesquisa civil do Fenômeno UFO: O casal Coral E. Lorenzen e Leslie James (Jim) Lorenzen. Coral nasceu em Hillsdale Wisconsin USA em 2 de abril de 1925 e aos 9 anos de idade, no verão de 1934, testemunhou o avistamento de um objeto voador não identificado enquanto jogava em sua escola na cidade de Barron, no estado americano de Winscosin, onde morava e uma cidade de apenas 1500 habitantes. Aviões eram uma raridade, balões meteorológicos nunca eram vistos e até um monomotor seria um evento naquela região. A “coisa”, como ela mesma chamou, estava indo na direção oeste-sudeste e Coral, na época, descreveu-o parecido com um guarda-chuva aberto sem o cabo. O UFO movia-se com rapidez, algumas vezes essa movimentação parecia como se fosse uma ondulação e muito impressionada ela chamou mais duas colegas para testemunhar com ela aquele avistamento. Observaram o UFO por aproximadamente 20 segundos e ao chegar em casa, emocionada, contou para os pais voltando ao local do avistamento com seu pai para verificar de perto o que poderia ter acontecido, mas nada foi visto novamente.
Coral enfatiza que nenhuma noticia sobre aterrizagem de paraquedas ou algo do tipo foi alertado durante a semana e nem depois. Aquele contato a marcou profundamente, mesmo ainda muito menina, procurou se informar de mais alguém que tenha testemunhado algo parecido ao que havia visto. Em 1937, numa consulta com o médico da família, Harry Schlomovitz, ela relata seu avistamento. Ele também fica intrigado e lhe entrega alguns livros de Charles Fort (1834-1932), famoso escritor americano que tratava sobre fenômenos anômalos e fatos insólitos, foi um dos percussores do Realismo Fantástico. Fort muito antes da Era Moderna dos Discos Voadores, relatava avistamentos de fenômenos aéreos que muito se assemelham ao que hoje entendemos se tratar do Fenômeno UFO e ao ler sobre isso, Coral se convenceu da realidade física do que tinha visto. Sua curiosidade aumentava ao longo dos anos, aquela lembrança jamais a deixaria em paz e muito organizada e disciplinada, logo ela começou a estudar astronomia e afins por conta própria, na tentativa de entender mais sobre o que tinha visto.
Pouco depois de graduar-se no ensino médio, ela casou-se com James “Jim” Lorenzen um guitarrista profissional e técnico eletrônico. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela trabalhou para a Douglas Aircraft, o casal vivia no Arizona. Pouco dias antes do avistamento de Kenneth Arnold, em 10 de junho de 1947, Coral tem seu segundo avistamento enquanto estava sentada nos fundos da casa. Como ela mesma relata em seu livro Flying Saucer- The Stariling Evidence of the Invasion from Outer Space: “Era um dia de verão comum em Douglas, estado americano do Arizona e estava muito quente. Depois que eu e minha filha Leslie jantamos às sete horas, tomamos banho e a coloquei para dormir. Perto das nove, fui ao meu local preferido atrás do alpendre para olhar as estrelas e os meteoros. Perto das 11 horas da noite, minha atenção foi de encontro a uma luz que vinha do sul perto da fronteira do Arizona com o México. Era só uma luz no começo, mas logo tomou a forma de uma bola, então ergueu-se rapidamente para o céu acima até desaparecer entre as estrelas.” Novamente um avistamento que a marcaria imensamente, Coral tinha conhecimentos em astronomia, sabia diferenciar um planeta de uma estrela ou um de meteoro e é bom que se relembre que era o ano de 1947 e, portanto, não existiam satélites em órbita da Terra. Entusiasmada, ela escreve para seu marido que naqueles dias se encontrava na cidade de Phoenix, também no Arizona, relatando tudo o que havia visto na noite anterior. No entanto, Coral sabia que não havia explicação lógica para o que avistara e que aquilo só poderia ser obra de uma forma de inteligencia que não pertencia à Terra. Após esse evento, como a mesma, citou em seu livro: “Nas semanas seguintes, foi como o céu se abrisse para expulsar todo o tipo de coisa estranha.” Na região do Arizona, onde o casal morava, as aparições eram inúmeras, com diversos casos de contato, alguns até agressivos, de fato, por todo os Estados Unidos a onda ufológica estava aterrorizando a população. No entanto, as explicações oficiais da Força Aérea era absolutamente anormais e frustrantes que inclusive ignoravam casos graves de avistamentos em massa ou distorciam relatórios e faziam testemunhas serem ridicularizadas perante a mídia.
Mesmo com poucos recursos, a APRO surgiu como uma resposta a essa irresponsabilidade e mesmo deboche do governo e das Forças Armadas em lidar com um assunto claramente sério e assustador. Logo nos primeiros anos de seus trabalhos, a APRO, já possuía mais relatórios e casos catalogados do que toda a Força Aérea até então, o esforço e a paixão de Coral assim como o apoio incondicional de seu marido Jim, mostraram não apenas como era possível fazer um trabalho sério e honesto sobre Ufologia, como também mostraram seu claro descontentamento com o governo vigente, com suas mentiras e explicações mal dadas, que não apenas debochava da população, mas questionava inclusive, a própria ideia de democracia.
OS BOLETINS DA APRO
Divulgar informações sobre os casos pesquisados e seus resultados, sempre foi um dos principais objetivos dos ufólogos e para Jim e Coral Lorenzen também não poderia ser diferente. Formando uma imensa rede de contatos e acumulando uma série de casos inexplicáveis e depoimentos de testemunhas ao redor do país e fora dele, o casal decidiu colocar tudo o que sabia no papel e divulgar pelos Estados Unidos. The A.P.R.O. Bulletin surgiu com esse objetivos, um pequeno jornal, que circulava no meio ufológico e afins contando diversos relatos ao redor do mundo e com destaque para a América do Sul, principalmente o Brasil, graças a colaboração de Olavo Fontes, um dos primeiros pesquisadores de óvnis de nosso país, que infelizmente faleceu ainda muito jovem. Dr. Fontes era médico muito respeitado e um homem de grande inteligência, veio à público defender a realidade dos objetos voadores não identificados logo após a imensa onda ufológica de varreu o Brasil no ano de 1954, arriscando a sua reputação e sem medo de ser ridicularizado, pois tinha certeza da realidade do fenômeno que estava pesquisando. Dr. Fontes tornou-se membro da APRO em 1957 e desde então manteve uma relação de forte amizade com o Casal Lorenzen e sua família, incluindo viagens de ambos para o Brasil e de Olavo para os Estados Unidos. Foi ele o responsável por fazer os primeiros grandes casos ufológicos brasileiros serem conhecidos ao redor do mundo, incluindo a misteriosa queda de óvni em Ubatuba e o Caso da Ilha de Trindade. Em seu primeiro artigo se chamava “Sombras do Desconhecido”, documentando alguns dos casos mais interessantes já investigados no Brasil. A partir daí, ele não parou mais! Escreveu diversas matérias sobre a rica atividade ufológica em nosso país e ajudou a divulgar casos também em países vizinhos. Sua contribuição para a causa ufológica foi única e sua batalha continuou até o dia de sua morte em 8 de maio de 1968. Infelizmente, aqui em seu próprio país, pouca coisa pode ser encontrada de sua autoria com relação aos casos por ele investigados, sendo os Bulletins da Apro, uma imensa fonte de informação para aqueles que desejarem se aprofundar nos trabalhos e pesquisas do Dr. Olavo Fontes, no entanto, infelizmente nenhum deles ainda se encontra traduzidos para o português. Os Bolletins da Apro, começaram a contar com diversos colaboradores, e tratou de grande momentos da Ufologia mundial, como as pesquisas de Morris K. Jessup, ufólogo e astrofísico envolvido, inclusive, com o controverso caso do Projeto Filadélfia que, poucos anos depois, suicidou-se em circunstâncias misteriosas, segundo alguns, pelas prováveis mãos dos militares americanos e do histórico acobertamento imposto ao fenômeno UFO.
Tivemos também uma grande abordagem do UFO da Ilha de Trindade, onda ufológica na Venezuela nos anos 60, assim como a evolução de outros grupos ufológicos e ufólogos proeminentes na época como o Major Donald Keyhoe e seu centro de pesquisa, o NICAP (Comitê Nacional de Investigação de Fenômenos Aéreos), J. Allen Hynek e James McDonald, o polêmico Relatório Condon e o Congresso Science and Astronautics Committee Symposium on UFOs do qual Hynek, McDonald e Carl Sagan, que foi um grande marco dentro do debate ufológico. A vida dos ufólogos nunca foi uma coisa fácil (exceto de alguns poucos por ai) e para o Casal Lorenzen não era diferente. Além da costumeira dificuldade financeira que, os dois enfrentaram juntos doenças, mortes e a queda de vários de seus companheiros ufólogos.
O primeiro deles foi o já citado aqui Dr. Olavo Fontes, vitima de um câncer e um dos principais amigos e colaboradores. Após isso veio a pilhagem da NICAP, também um dos primeiros grupos de ufologia e que na mesma época que a APRO alcançou grande notoriedade na divulgação da Ufologia. O Major Donald Keyhoe, que havia se tornado ufólogo após a grande onda ufológica de 1947, foi um fundador do NICAP e uma das suas principais características era a militância política com relação ao Fenômeno UFO. Sempre foi um crítico ferrenho do Governo Norte-Americano e sua insistência em negar, distorcer e ocultar informações sobre UFOs e inspirou vários outros a seguir por esse caminho. O mais famoso deles foi o Dr. James E. McDonald, físico atmosférico e ufólogo que revolucionou a pesquisa ufológica de sua época. No entanto, os constantes ataques e críticas que o NICAP fazia constantemente às altas esperas militares e governamentais não ficariam por isso mesmo.
Coube a Coral e Jim Lorenzen juntamente com Donald Keyhoe encabeçarem a batalha para desmentir as armações desses supostos contatados, que em sua maioria faziam espetáculos tétricos em canais de rádio e televisão e cobravam rios de dinheiro para falar sobre suas experiências fantasiosas para um público ávido de emoção (algo não muito diferente de hoje, infelizmente). Não se deve deixar de lembrar o imenso estrago que esses contatados fizeram com a Ufologia, que ainda em seus primórdios, também teve que suportar às criticas ferozes da imprensa, além do deboche que ficou costumeiro no meio, resultando no afastamento definitivo de quase toda a classe científica vigente da época. Com poucos ufólogos sérios na área, essa batalha esteve quase perdida e arrisco afirmar que a ufologia só não foi enterrada de vez ainda naqueles tempos graças ao trabalho árduo e pouco reconhecido desses ufólogos, como ainda acontece nos dias de hoje. Em seu auge, a APRO alcançou mais de 3000 associados e parte desses membros formou a MUFON, mais famosa rede de estudos e pesquisas ufológicas que está ativa até os dias de hoje. Temos que reconhecer a imensa inteligência e coragem de Coral Lorenzen, ela não apenas reconheceu o mistério do fenômeno UFO ainda em tenra idade, como foi uma das primeiras ufólogas sérias de sua geração a falar sobre ocupantes próximos a objetos não-identificados, um tabu pouco discutido entre as maiores autoridades de Ufologia da época. O próprio J.Allen Hynek, conhecido por um dos grandes líderes da pesquisa dos UFOs demorou muito tempo para admitir que seres eram, de fato, vistos em alguns casos, próximos ou dentro desses aparelhos, o que o levou a descartar testemunhos desse tipo por vários anos. Coral também era uma crítica da própria comunidade ufológica, sempre se posicionando quando via que alguém estava fazendo um mal serviço, muitos boletins da APRO tratam sobre isso. Pesquisando, divulgando e escrevendo incessantemente sobre o assunto, Coral e Jim Lorenzen eram presenças certas em debates, congressos e entrevistas.
Juntos, os 2 escreveram uma dúzia de livros, sendo que um deles era um guia para pesquisadores de campo. Coral Lorenzen morreu em 1988, tendo seu amado marido falecido pouco antes dela e com eles também se encerrou a incrível trajetória da APRO, tendo deixado um imenso legado para a história da ufologia. Quando olhamos para o presente momento da Ufologia, nota-se que existe uma carência de referências nessa área, principalmente no Brasil, já que uma grande parte de documentos e livros que contam profundamente a histórias dos primórdios da Ufologia não se encontram disponíveis em português e muitas vezes, nós também não valorizamos e desconhecemos o legado de nossos pesquisadores brasileiros de outrora. Na ânsia de visualizações, “likes” e seguidores (além do dinheiro) a honestidade da Ufologia se perde quase como uma lenda urbana, muitos dos pesquisadores e entusiastas que hoje estão na ativa sequer sabem que ufologia se fazia com trabalho duro, sofrendo desconfianças, preconceitos e imensas dificuldades para se colher ao menos um depoimento. Lembro das histórias de Irene Granchi que, para entrevistar testemunhas em lugares distantes, caminhava carregando um gravador pesando 14 quilos, subindo e descendo morros e encostas. Coral Lorenzen foi uma figura dessas que aparecem poucas vezes na vida, pois imaginem vocês o que era para uma mulher investigar óvnis em pleno anos 50? se hoje às vezes é difícil se posicionar como ufólogo, imagine as coisas que ela sentiu e ouviu naqueles tempos? As ofensas, o deboche, as desconfianças e o machismo.
Mesmo assim ela seguiu com seu trabalho, ao lado do marido e seu apoio incondicional de quem jamais duvidou de uma palavra do que ela disse ou de seus motivos. Amor, esse sentimento que uniu essas duas almas por uma vida inteira, que os fez descobrir juntos um dos maiores mistérios da humanidade e que os levou a entrar para história como desbravadores dessa nova realidade. Um amor que os fez superar dificuldades imensas e seguir em frente divulgando um fenômeno tão difamado e tão atacado ao longo da história, mas com a certeza da verdade e de sua legitimidade, pois tudo que é feito com amor, mesmo com todas as dificuldades, se torna perfeito.
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