Nós sempre estaremos aqui: Como a ufologia brasileira passou pelos tempos de chumbo da ditadura?
Prezados guerreiros da causa ufológica, como todos já devem ter visto a atriz Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz pelo filme Ainda Estou aqui, adaptação do livro de mesmo nome do escritor Marcelo Rubens Paiva e dirigido pelo premiado diretor Walter Salles. Marcelo Rubens Paiva conta a história sobre o desaparecimento de seu pai, o deputado Rubens Paiva, sequestrado pela Ditadura Militar e que nunca teve seu corpo encontrado.O filme se passa pelo ponto de vista de sua mãe e esposa de Rubens, Eunice Paiva, que com a família destroçada pelo sumiço do patriarca, tenta encontrar forças para continuar e buscar justiça em meio à perseguição e aos anos hostis da repressão da ditadura militar-empresarial no Brasil. O filme é muito forte e emocionante e para aqueles que ainda não viram, indico que vejam. Então,aproveitando o burburinho que o filme está causando, assim como o debate histórico que ele trás, resolvi fazer um pequeno resumo do impacto que a Ditadura Militar-Empresarial teve na pesquisa ufológica e na vida dos ufólogos.
Num artigo escrito para a Folha de São Paulo no ano de 1997, o jornalista Mauricio Stycer traz um texto onde relata a investigação realizada pelo DOPS sobre ufólogos brasileiros, que teve início com o Caso Patero, ocorrido em 1974, quando Onilson Patero, um comerciante de Catanduva, alegou ter sido sequestrado por um disco voador.
O caso gerou grande repercussão na mídia e atraiu a atenção das autoridades, incluindo o DOPS. Patero afirmou ter tido dois encontros com óvnis, sendo o segundo mais dramático, quando ele desapareceu por seis dias e foi encontrado em outra cidade.
O delegado Hermínio José Theodoro relatou o caso ao DOPS, que iniciou uma investigação sobre Patero e também sobre os ufólogos que estavam com ele, incluindo Max Berezovsky e Willi Wirtz, pioneiros da ufologia no Brasil. Ambos foram ouvidos pela polícia, mas suas opiniões sobre o caso divergem: Berezovsky acreditava no primeiro encontro de Patero, enquanto Wirtz considerava os relatos falsos e inconsistentes.
Inicialmente, o DOPS concluiu que Patero era um "mitômamo" (alguém que inventa histórias) e parecia ter problemas neurológicos. No entanto, em 1975, a investigação deu uma reviravolta e os próprios ufólogos passaram a ser investigados.
Um documento anônimo sugeriu que os ufólogos estivessem realizando reuniões subversivas, o que levou o DOPS a infiltrar agentes nas reuniões da comunidade ufológica em São Paulo. Durante uma dessas reuniões, o agente relatou que os ufólogos discutiam teorias sobre óvnis, mas não encontraram nenhum comportamento político subversivo.
O caso acabou sendo arquivado, com a conclusão de que os ufólogos não estavam envolvidos em atividades contra o governo, mas a investigação ficou registrada como um dos processos mais inusitados da repressão durante a ditadura militar.
SNI investigou óvnis durante a ditadura
Num artigo de 2009 pela Folha de São Paulo Fernano Rodrigues relatou em seu texto sobre as investigações conduzidas pelo extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e pela Aeronáutica sobre óvnis durante a ditadura militar no Brasil, especialmente no caso da "Operação Prato" (1977-1978), ocorrida no Pará e Maranhão. A operação investigou relatos de luzes misteriosas que causavam efeitos físicos nas pessoas. Documentos do SNI, classificados como confidenciais, detalham observações e desenhos de supostas naves, mas sem conclusões definitivas.
A investigação despertou ceticismo entre os militares, que temiam cair no ridículo. Apesar disso, as Forças Armadas produziram relatórios detalhados sobre óvnis desde os anos 1950. Em 2007, ufólogos solicitaram acesso a esses documentos, resultando na liberação parcial de arquivos, mas casos como o "ET de Varginha" (1996) permanecem em sigilo. Outros registros históricos, como o estudo do Sioani (1969), mostram que o interesse oficial por óvnis envolvia entrevistas e desenhos de avistamentos, com influências visuais da cultura pop da época. O sigilo de documentos ainda é renovável, o que mantém muitos arquivos longe do público.
É necessário que se diga que a repressão militarista da Ditadura foi uma as principais culpadas das principais informações referentes à Operação Prato terem se perdido, pois muitos documentos dessa época foram deliberadamente destruídos para ocultar os crimes de assassinatos e torturas cometidos contra a população e supõe-se que muitos arquivos da Operação Prato incluindo os famigerados vídeos gravados em Super 8 tenham sido queimados.
Abaixo, vou reproduzir pra vocês um artigo publicado no site da ouvidoria do Governo Brasileiro,mostrando como a Lei de Acesso à Informação foi fundamental para a mudança na pesquisa ufológica, uma ferramenta que ajudou a abrir as portas para a liberação de diversos documentos sobre óvnis, mostrando que a democracia e o acesso à informação são imprescindíveis para a formação de uma nação forte e justa e também no crescimento e divulgação de uma disciplina tão disruptiva como é a Ufologia:
As descobertas da ufologia brasileira com a Lei de Acesso à Informação
Publicado em 28/05/2018 11h24 Atualizado em 28/05/2018 11h51
Em 2012, quando a LAI entrou em vigor, o poder público enfrentou uma grande corrida por informações sobre...OVNIS. Conheça alguns dos casos que a Lei de Acesso à Informação ajudou a desvendar.
Para celebrar essa lei que veio para garantir o direito fundamental de qualquer pessoa solicitar e receber informações dos órgãos e entidades de todos os poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, vamos conhecer algumas histórias inusitadas que descobrimos ao longo dos esforços para sua implantação no Poder Executivo Federal. Caso você queira conhecer mais casos, lembramos que todas as decisões da CGU sobre acesso à informação estão disponíveis para pesquisa aqui no Ouvidorias.gov. Basta acessar a nossa busca de precedentes .
Um assunto instigante e que ronda o imaginário e curiosidade de muitas pessoas são as supostas aparições de objetos voadores não identificados (OVNIs).
Isso já foi tema de diversos filmes e documentários, mas também de diversos pedidos de acesso à informação.
Quando a LAI entrou em vigor, um dos temas com maior reincidência de pedidos foram OVNIs. No primeiro ano de vigência da lei, foram 37 pedidos de acesso à informação, contendo este termo no texto do pedido. O que muitos não sabiam é que, desde 2010, os documentos com registros de ocorrência de OVNIs que estavam sob domínio do Comando da Aeronáutica estavam sendo transferidos para o Arquivo Nacional, onde, hoje, são de domínio público. Este processo acelerou-se com a entrada em vigor da LAI, e principalmente, em razão do alto número de pedidos feitos ao Comando por vários estudiosos do tema. Foi em razão disso que, em 2013, o Governo e as Forças Armadas liberaram um dos mais importantes lotes de documentos relacionados ao tema.
As pessoas têm tanta curiosidade sobre o assunto que o Portal da Força Aérea Brasileira disponibiliza, inclusive, um link sobre OVNIs. Atualmente, há 137 documentos que possuem o termo OVNI no Arquivo Nacional. Porém, caso seja feita uma busca utilizando o código de referência BR DFANBSB ARX, que trata sobre objetos voadores não identificados, encontramos 758 documentos.
O primeiro pedido de acesso à informação sobre OVNIs foi feito no dia seguinte ao início de vigência da LAI, em 17/05/2012.
Foi um pedido considerado genérico, que solicitava ao Ministério da Defesa os documentos referentes a casos de OVNIs ocorridos em solo brasileiro, e, "quaisquer outros correspondentes ao pedido". A resposta dada foi que os documentos já haviam sido transferidos ao Arquivo Nacional.
OVNIS
O documento mais antigo sobre objetos voadores não identificados no Arquivo Nacional data de 1952. Trata-se de aparição de OVNIs na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. O arquivo é composto por 9 imagens fotográficas, em que podemos visualizar fotos de um objeto em formato de prato com uma cúpula no meio.
Em 2015, foi feito um pedido ao Ministério dos Transportes sobre um inquérito, datado de 05/10/1954, acerca do afundamento do navio de guerra, “Encouraçado São Paulo”, que teria sido vendido como sucata em 1951 ao Reino Unido. Para quem não sabe, o Encouraçado foi uma das armas de guerra mais importantes do Brasil durante o início do século XX, participando de diversos episódios importantes da história do Brasil, dentre eles a Revolta da Chibata (1910), o Bombardeio a Salvador (1912) e a Revolta dos 18 do Forte de Copa Cabana (1922).
Mas o que tudo isso tem a ver com objetos voadores não identificados?
Ao analisar o caso, nossa equipe se deparou com um fato inusitado: segundo muitos ufólogos, nossa arma de guerra havia sido abduzida, em um dos maiores casos de abdução de objetos já registrados na história. Na noite do dia 6 de novembro de 1951, fazia mau tempo.
O encouraçado estava sendo rebocado para o Reino Unido, onde seria desmontado e transformado em sucata; porém, a cerca de 150 milhas ao Norte de Açores, o casco do navio soltou-se dos cabos que o ligavam aos rebocadores e perdeu-se na escuridão. Seu naufrágio ocorreu em local desconhecido e levou consigo a tripulação composta de oito homens, que eram responsáveis pela manutenção dos cabos de reboque. Até hoje não foram encontrados vestígios do encouraçado. Segundo relatos dos tripulantes do navio de reboque, antes do misterioso desaparecimento, estranhas luzes teriam sido vistas no céu...
Com a liberação dos documentos, descobriu-se que existiu um Sistema de Investigação de Objetos Aéreos não identificados – SIOANI. Os documentos datam de 1969 e em seu conteúdo observa-se que o assunto sempre foi tratado com seriedade. São diversos relatos do avistamento de OVNIs.
Um caso brasileiro muito famoso é o de Varginha, Minas Gerais. A primeira aparição de objeto voador não identificado em Varginha é de 1971, apesar do caso que deu fama a cidade ser de 1996. É possível encontrar vários documentos no Arquivo Nacional, como por exemplo, relatório do Ministério da Aeronáutica, em que piloto de avião relata a ocorrência de tráfego de objeto voador não identificado. Apesar de no relatório constar que foi tudo filmado por passageiro, o vídeo não consta no Arquivo Nacional.
São diversos os pedidos de acesso à informação relacionados a voos do Sistema de Transporte Aéreo Regular solicitando cópias dos relatórios aéreos. Vamos ver dois casos:
Em 6 de agosto de 1954, avião da extinta companhia aérea Varig estava executando voo extra, cargueiro, do Pará para o Rio de Janeiro, quando a tripulação avistou objeto voador não identificado. A tripulação ficou tão impressionada que resolveu pousar em São Paulo.
Outro caso ocorreu em 1983 e envolveu duas aeronaves do Sistema de Transporte Aéreo Regular. No documento há longa transcrição de gravação das comunicações entre as aeronaves e o Serviço de Proteção ao Voo.
Todos esses casos, e vários outros, são públicos e podem ser encontrados no Arquivo Nacional ou no Portal de Acesso à Informação.
E você, depois dessa matéria, acredita ou não em OVNIs?
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